A Era do Automóvel Eléctrico
Se durante o primeiro século em que automóvel se impôs como “O” veículo de transporte de massas, os motores de combustão interna estabeleceram uma hegemonia que não tinha rival à altura, a aposta na electrificação automóvel tem vindo a consolidar-se, prevendo destronar o “status quo” dominante na indústria, já durante a próxima década.
O automóvel eléctrico já não é uma mera tendência. É uma certeza, muito para além da preferência alimentada pelo gosto pessoal. Ou pelo saudosismo dos carburadores e da injecção directa que alimentava os cavalos dos motores a gasolina e gasóleo. O “se”, outrora parte da reflexão sobre os prós e contras na aquisição e aluguer de longa duração de um veículo eléctrico, está a dar lugar rapidamente ao “quando”.
A hegemonia e queda dos combustíveis fósseis
A gasolina e o diesel estiveram na proa do período de massificação do automóvel em Portugal, durante as décadas de 90 e primórdios de 2000. No momento de aquisição de uma viatura nova, semi-nova ou usada, nomeadamente a partir dos anos 2000. A tecnologia common-rail e a reintegração do turbo de geometria variável, quer nas motorizações a diesel, quer no retorno, de forma generalizada, desta tecnologia aos carros a gasolina, veio aumentar exponencialmente a eficiência da tecnologia de combustão interna, demonstrada nas várias categorias da competição automóvel a nível global. Foi exemplo deste período o retorno dos grandes construtores, a nível oficial, ao Campeonato do Mundo de Resistência (WEC) e às 24 Horas de Le Mans, onde a Audi, Peugeot, Porsche e Toyota atingiram níveis de competitividade nunca antes alcançados.
Em 2015 o “Dieselgate” abalou as fundações do mundo automóvel, atingindo com repercussões, até aqui inimagináveis, os maiores e mais prestigiados grupos mundiais, encabeçados pelo Grupo Volkswagen. Ficou claro que todo este escândalo estabeleceu um ponto de não-retorno, no que toca à continuidade do desenvolvimento das “velhas” motorizações, conceitos e segmentos, alimentado sobretudo por uma consciência cada vez mais global quanto às alterações climáticas, e ao papel da própria economia no combate às desigualdades por elas criadas.
O surgimento do automóvel híbrido já tinha acontecido há 10 anos atrás, pelas mãos da Honda e Toyota, mas muitos projectos de electrificação massiva que, até ali, estavam somente no papel, rapidamente passaram para os estiradores dos gabinetes de engenharia e design automóvel. Foi a chegada marcante da Tesla, com resultados excepcionais na venda de veículos eléctricos e autónomos concebidos para os segmentos de luxo, que abriu a porta à entrada dos gigantes tecnológicos no mundo automóvel. Apple, Google, Huawei e Microsoft marcarão, por certo, o futuro do automóvel nos próximos 30 anos.
O Automóvel Eléctrico em Portugal
A electrificação do parque automóvel em Portugal tem sido progressiva, ainda dominada pelas motorizações tradicionais, representando a gasolina, gasóleo e GPL mais de 70% dos veículos em circulação nas estradas portuguesas. Porém, a taxação cada vez mais alta sobre os veículos e combustíveis fósseis, e a busca por alternativas pela tão ambicionada neutralidade carbónica, faz com, aproximadamente, 20% dos automóveis novos comercializados em Portugal, durante 2020, fossem eléctricos e/ou híbridos plug-in. Entre os modelos com maior procura, destaque para o Nissan Leaf, Tesla Model 3, Peugeot e-2008, Renault ZOE, Peugeot e-208, Hyundai Kauai EV, Volkswagen ID.3, Citroen e-C4, Mercedes-Benz EQA 250 e Fiat 500e.
E se 2020 trouxe uma alteração profunda de paradigma nos hábitos de consumo em Portugal, com a digitalização de todo o processo de compra de um automóvel, os lançamentos em 2021 e 2022 de novos modelos eléctricos e híbridos como o Mercedes-Benz EQC, BMW iX, Alfa Romeo Tonale, prometem reforçar a aposta das grandes marcas na electrificação das suas gamas. Mais do que uma tendência, o automóvel eléctrico veio para dominar a mobilidade terrestre nas próximas décadas.